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Quando o sofrimento bater à sua porta

28/5/2019 às 20h01 - Gabriel Granjeiro
Divulgação Gabriel Granjeiro “Sofrimento e sacrifício formam juntos uma das faces da moeda da virtude; são sagrados, santos. Inquietações costumam vir carregadas de ensinamentos que têm o poder de nos tornar melhores, mas precisamos estar abertos a elas”, ensina Gabriel Granjeiro.

Como você talvez tenha notado, o título deste artigo é o mesmo de um dos livros do sábio Padre Fábio de Melo. Fiz questão de usar o mesmo título para nossa mensagem da semana porque o livro “Quando o sofrimento bater à sua porta” foi a recomendação de leitura de março em nosso Clube do Livro do GG, movimento que criei nas redes sociais para indicação de obras que podem auxiliar no crescimento profissional e pessoal dos participantes.

Isso quer dizer que todo o conteúdo das linhas a seguir será inspirado na exaustiva e criteriosa leitura que fiz da obra em referência. Gostei muito das lições do livro, tanto que fiquei ainda mais fã do autor, mineiro de Formiga, filósofo, teólogo e mestre. Espero agora conseguir traduzir ou pelo menos resumir bem as ideias do padre-escritor, de quem me tornei um humilde discípulo.

O Padre Fábio ensina que, nas estradas da vida, o sofrimento é uma passagem obrigatória. Aflições, amarguras, desgostos são, assim, naturalmente interessantes e instigantes, até mesmo porque condensam boa parte do significado do nosso caminhar pela Terra. É inegável: o sofrimento é da natureza humana. Então, não há por que resistir a ele ou rejeitá-lo. Afinal, cedo ou tarde, há que enfrentá-lo de qualquer jeito. Por isso, quando o sofrimento bater à nossa porta, o melhor a fazer é abri-la logo.

Sofrer é experimentar as inadequações da vida. Dissabores podem ser reflexo dos nossos erros e das nossas más – ainda que bem-intencionadas – decisões. Podem, ainda, advir de escolhas erradas feitas por outras pessoas – mais ou menos próximas, mais ou menos queridas –, tal como explicamos em nossa última conversa neste canal. Em alguns casos, o sofrimento é resultado de tragédias, de desgraças, de infortúnios, de injustiça. Independentemente da origem, o fato é que, por mais difícil que seja enfrentar penúrias e inquietações, temos de conviver – e aprender – com elas. Nosso maior problema é perder boa parte da vida com sofrimentos inúteis, muito por falta de maturidade e de sabedoria.

Não sabemos muito bem como administrar problemas, por isso as oportunidades de saborear a vida vêm e vão, chegam e passam sem nem mesmo nos darmos conta delas. Essas oportunidades imporiam alguma dose de sofrimento, é claro, mas um tipo de sofrimento edificante; dores físicas ou emocionais que valeria a pena sentir. Mas não. Acabamos deixando de aproveitá-las para, em seu lugar, sofrermos por fatos e circunstâncias sem a mesma importância, sem o mesmo valor.

Em outras palavras, invertemos a ordem dos fatores, que aqui faz toda a diferença. Quando o sofrimento é relevante, confere uma espécie de selo de qualidade à vida, purificando-nos e fazendo aflorar em nós os mais valiosos sentimentos. Sofrimento e sacrifício formam juntos uma das faces da moeda da virtude; são sagrados, santos. Inquietações costumam vir carregadas de ensinamentos que têm o poder de nos tornar melhores, mas precisamos estar abertos a elas.

O sofrimento, objeto de estudo, em especial, da filosofia, da teologia, da psicologia e da medicina, se manifesta em dois tipos de dor: física e espiritual. O sofrimento do corpo é mais concreto e palpável. É localizado, passível de investigação por meio de exames laboratoriais e tratável por meio de medicação, entre outros caminhos e inúmeras possibilidades oferecidas pela medicina. Na prática, é a dor física com causa também física. Já o sofrimento da alma é descrito como um conflito espiritual, uma espécie de desvario dos afetos, uma inquietação de ordem emocional ou moral. É, enfim, uma dor mais difusa e não materializada. São fontes desse tipo de tristeza, por exemplo, acontecimentos inesperados, como uma tragédia natural que ceifa a vida de pessoas queridas, e acontecimentos que, mesmo em certo grau previsíveis, trazem amargura e desencanto, como a morte de um parente já idoso.

Embora numa primeira análise possa parecer que é assim, nem só de tristeza se alimenta o sofrimento humano. Há dores físicas e emocionais produzidas por acontecimentos indubitavelmente felizes. O nascimento de um filho, por exemplo, é uma experiência de extremo sofrimento tanto para a mãe como para a criança. Há contrações, dores excruciantes, caminhos estreitos, sangue, choro. Tudo isso, porém, tem de ser enfrentado para que esse sacrifício, essa dor, esse sofrimento se desdobre em uma recompensa maravilhosa: um serzinho muito amado. É curioso como a experiência de chegada ao mundo indica desde logo o quão sofrida será a existência em si. Mais curioso ainda é o fato de que isso só confirma a regra de que vale a pena sofrer de vez em quando.

Mas por que, afinal, temos de sofrer? E por que as pessoas boas não sofrem menos que as más? Como justificar o sofrimento de crianças e bebês inocentes? Por que a vida é assim? Porque é, meu amigo, minha amiga. Jovens sofrem. Idosos sofrem. Pobres sofrem. Ricos sofrem. Todo mundo sofre. Sofrer é, como já dissemos, algo inevitável, algo natural.

Sofremos quando dizemos não e sofremos quando dizemos sim. Sofremos quando amamos e sofremos quando odiamos. Sofremos por sermos incompletos, inacabados. Sofremos porque não termos explicação para tudo.

Precisamos ter em mente que o sofrimento expõe nossas limitações. Sofremos porque não podemos ter tudo que queremos, tudo com que sonhamos. Sofremos enquanto estamos na luta por um objetivo, mas, mesmo depois de finalmente alcançá-lo, continuamos a sofrer, agora por objetivos diferentes. Já reparou nisso? Somos eternos insatisfeitos, e é isso que nos move.

Quando sentimos dor – e especialmente quando a dor é na alma –, tendemos a nos perguntar por que aquilo está acontecendo conosco. Por que será que estamos passando por algo tão ruim? Feliz ou infelizmente, a verdade é que temos de aprender a conviver com perguntas como essas, para as quais nem sempre teremos resposta. Aliás, logo notamos que, ao persistirmos nos questionamentos, sofremos mais. Ficamos, assim, incapacitados, paralisados, em choque, e logo abandonamos a ideia de perseguir respostas. Sofremos, desistimos de lutar, desistimos de aprender. Mas será que é isso mesmo que devemos fazer?

Penso que não. O bom da vida, amigo leitor, não está em chegar rápido às respostas, mas, sim, em aprender a conviver com as perguntas e em descobrir nossos limites, nossas incompetências, nossa inutilidade para certas coisas ou situações. É por isso que, se o sofrimento bater à nossa porta, temos é de abri-la logo e dar a ele as boas-vindas.

Sim, há sofrimentos que buscamos e invocamos. Há outros, porém, com os quais a vida nos surpreende. São os acidentes, as tragédias, os acontecimentos que não podem ser previstos; muito menos evitados. Ah, não temos controle algum sobre eles… Muitas vezes, a fonte desse tipo de sofrimento são escolhas de terceiros. O alcance dos resultados de tais escolhas pode se limitar à vida da própria pessoa por elas responsável, mas nada impede que vá além e produza reflexos na vida dos familiares ou até de pessoas fora do seu círculo. É por isso que me vigio o tempo todo para não tomar decisões potencialmente prejudiciais a terceiros. Vivo alerta para mudar atitudes, rever meu rumo, conhecer os meus limites, plantar com cuidado, lançar as sementes certas, pedir ajuda aos especialistas, aos escritores, aos mestres. Como já disse em outro artigo, entendo que pedir ajuda é sinal de força, de sabedoria. É sinalizar que a nossa vida vale a pena ser vivida, e bem.

Concurseiro, abra a porta para sofrimentos edificantes, mas a mantenha permanentemente fechada para aqueles com 99,99% de chance de não trazer nada de bom. Temos a tendência de sofrer por ideias que só existem em nossa mente. São delírios, projeções da mente em função de acontecimentos do passado ou recentes que ficam nos rodeando e assombrando, renovando o medo em nosso coração, paralisando-nos e entristecendo-nos.

Se pudéssemos escolher, é claro que escolheríamos não sofrer. Infelizmente, porém, não há como modificar as regras da vida. Sofrer é humano e, por isso, inevitável. Em algum momento, o sofrimento baterá à nossa porta e nos tocará. O que fazer então? Você já sabe. O importante é não nos rendermos ao seu espírito paralisante, desencorajador, destruidor de sonhos. Sofrer? Sim, mas apenas por causas que mereçam o nosso sofrimento e tragam consigo oportunidades de aprendizado e crescimento.

Estudar para passar em concurso público é sofrido? É. É doído? É. Vale a pena? Ah, se vale! O sofrimento é transitório, mas o cargo público é permanente, meu caro. Pode parecer clichê, mas depois da tempestade sempre contamos com o calor e a luz do sol para nos reconfortar e acalmar. Isso não quer dizer que devemos sofrer à toa. Se o sofrimento bater, devemos abrir a porta apenas para o que for em alguma medida compensador.

Se concorda com esta mensagem, registre nos comentários “Não vou sofrer à toa!”

“Sofrer é o mesmo que purificar. Só conhecemos verdadeiramente as coisas à medida que as purificamos. O mesmo acontece em nossa vida. Nossos valores mais essenciais só serão conhecidos por nós mesmos se os submetermos ao processo de purificação.” (Padre Fábio de Melo)

 

Gabriel Vinícius Carvalho Granjeiro é diretor-presidente e fundador do Gran Cursos Online e da GG Educacional. Formado em Administração e Marketing. Vive e respira concursos há 10 anos. Fascinado pelo empreendedorismo e pelo ensino a distância.

Artigo publicado na versão impressa do Caderno Jurídico, em abril de 2019.

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