Concursos
Os que com lágrimas semeiam com alegria colherão
Algumas das decisões mais importantes da vida são tomadas em momentos tristes, quando não há muitas opções nem tempo para reflexão e é impossível prever o desfecho do que estamos prestes a fazer. Mas, então, lembramos do salmista e seguimos andando – com um rio de lágrimas nos olhos e sangue nas ventas –, carregando feixes de boas sementes para, mais tarde, em júbilo, colher fardos e fardos de bons frutos.
“Aqueles que semeiam com lágrimas, com cantos de alegria colherão.” (Salmo 126:5)
Você não pode ficar pensando para sempre, amigo leitor. Cedo ou tarde, terá de tomar suas decisões. Eu, jovem empreendedor que sou, tomo as minhas o tempo todo. Algumas delas não são perfeitas e talvez nem sejam as mais apropriadas. Mas, penso que é melhor eu fazer logo minha escolha, ainda que imperfeita, do que continuar buscando, caçando uma decisão perfeita que talvez eu nunca encontre. Em outras palavras, penso que temos mesmo é de agir.
Conheço muita gente para quem a grama do vizinho parece sempre mais verde. São pessoas que imaginam que os outros não enfrentam problema algum; ao contrário, vivem felizes e contentes. Quanta cegueira! Quanta imaginação equivocada! A alegria, caro leitor, é uma conquista; não o reflexo de uma vida isenta de problemas. Aliás, em bom Português, uma vida sem problemas não passa de mito. Se alguém não enfrenta dificuldades de vez em quando, é porque não vive. Uma vida feliz é fruto do que foi cultivado em meio às adversidades, ao caos, às turbulências… aos problemas.
Pessoa feliz é aquela que, tendo aprendido a cultivar em solo rochoso ou arenoso, consegue extrair dali belos frutos.
Alegria é, acredite, uma planta que cresce em terreno difícil. Dito de outra forma, a vida é um composto feito ora de momentos de sofrimento e amargor, ora de momentos de puro deleite. Assim como não há vida só de tristezas, também não há vida só de alegrias. Nosso caminho será sempre permeado de pedras e de flores.
Não importa quanto tempo leve para sua lavoura dar frutos; importa que ela os dará.
Sabendo disso, precisamos nos fortalecer na bonança e nos preparar para as situações de tristeza e crise, pois, afinal, é nelas que temos de tomar algumas decisões bem importantes. Se não estivermos preparados, corremos o risco de entrar em desespero e desistir. Pior ainda: podemos simplesmente nos acomodar ao sofrimento, permanecendo infelizes mesmo depois da solução dos problemas. É preciso fazer diferente. O melhor é enfrentar as dificuldades com determinação, crendo na vitória, desafiando os pessimistas que nos rodeiam e esperando a felicidade como recompensa.
Sou da opinião de que é preferível sonhar com a felicidade que um dia podemos ter a chorar por aquela que perdemos.
O júbilo é uma dádiva que só vem depois do trabalho duro, do acordar cedo, do cultivar a lavoura, do preparar-se adequadamente. No caminho, o agricultor terá de lidar com ervas daninhas, pragas, variações climáticas, terrenos minados, a inveja do concorrente; ou seja, com todo tipo de ameaça e peste. Para piorar, é muito comum que, nessas horas, ele esteja só. Nesses momentos, o filho chora e a mãe não vê. Mas também é nesses momentos que o menino vai se transformando em homem.
Andar e semear com lágrimas é possivelmente passar fome hoje para ter o que comer amanhã. É levantar-se de madrugada, contra a própria vontade e ignorando as queixas do corpo cansado, para estudar, trabalhar ou simplesmente preparar a marmita do dia.
É ter consciência de que a vida é feita de sombra e luz, de vales e montanhas, de tempestades e bonança, de lágrimas e sorrisos, de medo e paz, de insônia e relaxamento, de derrotas e vitórias, de frustrações e realizações, de aprovações e reprovações.
Ninguém consegue chegar ao destino se não fizer a viagem, meu amigo, minha amiga. E qualquer viagem impõe alguma dificuldade ou algum esforço. Nem eu nem você conquistaremos vitórias significativas enquanto não tivermos aprendido a lidar com essa dura realidade. É por isso que sempre repetimos, neste espaço, que nenhum concurseiro passará em um bom concurso público enquanto não aprender a dizer não, a recusar alguns convites, a renunciar a alguns prazeres. Sem plantar, o agricultor não colhe. Sem escalar, o alpinista não chega ao topo da montanha. Tudo envolve suor e ação. Tudo envolve vontade para superar o cansaço e determinação para seguir após os inevitáveis tropeços.
“Quem quer colher rosas deve suportar os espinhos.” (Provérbio chinês)
Semear com vontade de chorar ou já banhado em lágrimas é fazê-lo com a certeza de que não há missão impossível, mas missão dada. E missão dada é missão cumprida. Lágrimas são o soro da alma e a linguagem do coração. Claro, não devemos fazer tudo chorando. Seria melancólico demais. Tampouco devemos fazer tudo sorrindo. Seria monótono. O ideal é o equilíbrio entre lágrimas e sorrisos. O equilíbrio mostra à alma como é o mundo de verdade.
Se a semeadura é imprescindível para a colheita, tente selecionar as melhores sementes e escolher o melhor lugar para plantá-las, mas não ignore o fato de que tempestades e pragas são inevitáveis. Pense que, ao menos, elas são previsíveis. O que você fará com a informação de que elas estão prestes a ocorrer será o seu grande diferencial.
Fica o alerta, amigo leitor: não importa quanto tempo leve para sua lavoura dar frutos; importa que ela os dará. É com a faca nos dentes, sangue nos olhos e paz de espírito que se conquista um cargo público ou qualquer outro objetivo.
Concurseiro, entenda que haverá momentos, em sua trajetória rumo ao serviço público, que o valor do conhecimento será infinitamente menor que o da perseverança. Perseverar é continuar mesmo cansado e com dor em todos os ossos do corpo; é seguir, ainda que chorando. Você pode, sim, chorar, mas continue caminhando. Saiba que o choro poderá durar a noite toda, mas a alegria o acalentará pela manhã. A dureza da preparação é temporária, mas o cargo é permanente.
“A vida é fruto da decisão de cada momento. Talvez seja por isso que a ideia de plantio seja tão reveladora sobre a arte de viver.” (Padre Fábio de Melo)
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Gabriel Vinícius Carvalho Granjeiro é diretor-presidente e fundador do Gran Cursos Online e da GG Educacional. Formado em Administração e Marketing. Vive e respira concursos há 10 anos. Fascinado pelo empreendedorismo e pelo ensino a distância.
Artigo está no jornal impresso de março de 2019.