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Beto Richa chefia quadrilha que desviou mais de R$ 70 milhões e por isso foi preso
Gaeco aponta que o ex-governador é o chefe da organização criminosa que fraudou o programa “Patrulha do Campo”


Reportagem publicada terça-feira, 11, no site do jornal Tribuna, de Curitiba, escrita pelo jornalista Euclides Lucas Garcia, evidencia de forma clara o principal motivo da prisão do ex-governador Beto Richa: ele é o chefe de uma quadrilha que desviou mais de R$ 70 milhões dos cofres públicos. A investigação é do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), órgão do Ministério Público. O coordenador do Gaeco no Paraná é o promotor de Justiça Leonir Batisti. Beto e a esposa Fernanda Richa estão presos no Regimento de Polícia Montada, da Polícia Militar, que fica no bairro Tarumã, em Curitiba. E as informações que chegam à imprensa é que Beto pode estar dormindo perto das baias dos cavalos da PM.
De acordo com o texto de Euclides Garcia, o juiz Fernando Bardelli Silva Fischer, da 13ª Vara Criminal de Curitiba, concordou com os apontamentos dos Ministério Público Estadual de que o ex-governador Beto Richa (PSDB) é o chefe da organização criminosa que fraudou o programa “Patrulha do Campo”. Ao determinar a prisão temporária do tucano, o magistrado viu indícios suficientes de que ele foi o principal beneficiado pelo esquema, que só funcionava graças ao aval dele aos subordinados como chefe do Executivo. Já a ex-primeira-dama Fernanda Richa é apontada como auxiliar do marido na lavagem do dinheiro desviado, por meio da compra de imóveis no nome de empresas da família.
A decisão do juiz levou em conta acordo de delação premiada firmado pelo ex-deputado Tony Garcia com o MP e já homologado pela Justiça, segundo o qual “os investigados se organizaram criminosamente, buscando a obtenção de vantagem ilícita”. O juiz afirma que “há substratos nos autos que apontam que os investigados se associaram para constituir uma organização criminosa hierarquizada, que mediante divisão de tarefas, realizava crimes de fraude à licitação, corrupção, lavagem de dinheiro, dentre outros”.
Quem é o “juiz peitudo” que mandou prender Beto Richa?
Um grande número de paranaenses está perguntando quem é o “juiz peitudo” e corajoso que assinou as ordens de prisão do ex-governador Beto Richa, atual candidato ao Senado, sua esposa Fernanda Richa e de outros vários de integrantes do bando que “assaltou” os cofres do Estado. Fernando Bardelli Silva Fischer é filho do ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Felix Fischer, relator da Lava Jato na Corte. Bagagem, conhecimentos e ensinamentos não faltam ao magistrado que, como Sérgio Moro, está fazendo com que a lei seja cumprida.
Não importa o tanto de poder que o político tenha, ninguém está acima da lei.
O que Tony Garcia conta
Ao Gaeco, Tony Garcia contou ter sido procurado por dois empresários – Osni Pacheco (já falecido), da Cotrans; e Celso Frare, da Ouro Verde – para fraudar a licitação do “Patrulha do Campo”, cujo edital, lançado em 2011, previa o fornecimento de maquinário para um programa de manutenção em estradas rurais no interior do Estado. O montante envolvido era de R$ 72,2 milhões, em valores não atualizados. A proposta consistia em superfaturar os contratos e repassar 8% do faturamento bruto como propina a agentes públicos como contrapartida.
Há substratos nos autos que apontam que os investigados se associaram para constituir uma organização criminosa hierarquizada.
Tony Garcia delatou que Beto Richa aceitou a oferta e o orientou a procurar Ezequias Moreira, Deonilson Roldo e Pepe Richa para implementar o esquema – Luiz Abi também entrou na lista de arrecadadores depois. Aos empresários, a quem caberia orientar a elaboração da licitação, se juntou Joel Malucelli, da J. Malucelli. Ao final do certame, cada um dos três lotes foi vencido por Cotrans, Ouro Verde e Terra Brasil − esta última empresa teria sido aliciada, posteriormente, para entrar na fraude. Em comum acordo, a Ouro Verde repassou parte das patrulhas a Malucelli e a Tony. Segundo a delação, Beto e Fernanda Richa lavaram o dinheiro ilícito por meio da compra de imóveis no nome de empresas da família.
Existem áudios reveladores e bombásticos
No despacho, o juiz justifica que a prisão temporária é necessária “quando se constata a possibilidade de que a manutenção da liberdade dos investigados pode ocasionar perturbações ao esclarecimento dos fatos”, como a destruição de provas e a influência no depoimento de testemunhas; e também está prevista “para os crimes de associação e de organização criminosa, tendo em vista a necessidade de integração do sistema gerada pelas sucessivas alterações legislativas”. Para o magistrado, esse crime está caracterizado em áudios ambiente, vídeos, mensagens de texto, registros telefônicos, relatório e edital de licitação e escrituras públicas.
O juiz menciona uma conversa gravada em 12 de dezembro de 2012, na sede da Cotrans, entre Osni Pacheco, Celso Frare, Pepe Richa e Tony Garcia, na qual eles tratam do porcentual da propina. O acordo foi entregar na campanha metade do valor desviado e a outra metade seria repassada mensalmente a Aldair Petry, o Neco, ex-funcionário do Departamento de Estradas de Rodagem (DER). “Fazemos um caixa pra campanha do Beto pra reeleição. Projeto político nosso”, diz Celso na gravação.
Outro áudio, entre Tony e Beto Richa, em novembro de 2013, mostra o então governador reclamando de atrasos no repasse de Celso Frare e pedindo que o ex-parlamentar “vá pra cima”. O tucano relata que o dono da Ouro Verde agradeceu a entrada do “tico-tico lá que tava atrasado” e diz que “não sabe de nada” para não se envolver diretamente no esquema. “Deixa, você tem que ficar quieto. Fica na tua. Eu vou lá falar com ele”, promete Tony.
O magistrado ainda menciona um vídeo em que Celso Frare é filmado na casa dele “retirando maços de dinheiro que seriam destinados ao pagamento de propina do esquema criminoso”.
Habeas corpus é negado e casal Richa seguirá preso
E na noite de ontem, 12, o desembargador Laertes Ferreira Gomes, do Tribunal de Justiça do Paraná, negou o habeas corpus que pedia a libertação de Beto e Fernanda. O casal Richa está trancafiado em salas separadas e distantes. Categórico, o juiz da corte superior afirmou que a prisão é necessária para evitar que eles e os demais presos deturpem a investigação que está em curso, orientando testemunhas e destruindo ou alterando documentos. “É inevitável a adoção de medidas amargas a quem tem desprezo aos órgãos públicos e sempre acredita na impunidade”, escreveu o desembargador em sua decisão.
Anderson Spagnollo
Da Redação
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