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Jornal Caderno Jurídico

Psicologia

Ansiedade: o sofrimento que interrompe o prazer pela vida

19/7/2017 às 2h28 - Anderson Gonçales
Anderson Gonçales

Frequentemente escutamos no dia-a-dia pessoas se descreverem como sendo “ansiosas” ou como “muito ansiosas”. Ou nós mesmo nos deparamos com situações estressoras que nos levam a crises intensas de ansiedade, causando impactos significantes nas demais áreas da vida. Algumas perguntas importantes surgem sobre esse tema e serão respondidas ao longo desse artigo. O que vem a ser ansiedade? Ansiedade tem cura? Em algum nível a ansiedade pode ser considerada um estado saudável? Qual profissional devo procurar para trabalhar a minha ansiedade?

O DSM-V – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtorno Mentais – usa como critério de diagnóstico de transtornos de ansiedade os seguintes aspectos: sentimentos de medo, ansiedade excessiva e perturbações comportamentais. O medo é uma resposta emocional (sentimento) a uma ameaça real ou percebida, enquanto a ansiedade se refere a antecipação de ameaça futura. Os dois estados mencionados se sobrepõem, mas há aspectos envolvidos que os diferenciam. O sentimento de medo está mais frequente associado a períodos de excitabilidade autonômica aumentada, reações necessárias para a emissão de comportamentos de luta ou fuga do evento aversivo, pensamentos constantes e com teor de perigo imediato incluindo respostas de fuga da situação amedrontadora. A ansiedade está frequentemente associada a preparação do sujeito a perigos eminentes que “podem” vir a ocorrer e, possivelmente, não sabendo o que fazer para interromper. Por isso, em todos esses estados, o comportamento mais comum é o de esquiva. A esquiva comportamental tem como função atrasar, adiar e evitar a ter contato com a consequência aversiva. (Por exemplo: não ir à festa para não encontrar o antigo namorado; não querer ir mais à escola para não sofrer agressões físicas dos colegas de sala; etc.)

Muitos autores que escrevem sobre ansiedade procuram arbitrariamente dividi-la em “ansiedade positiva” e “ansiedade negativa” com o propósito didático de levar o leitor a perceber quais são os determinantes de cada uma.

 

Ansiedade positiva

A “ansiedade positiva” é aquela relacionada a eventos em que a pessoa deseja que o mesmo aconteça logo. Destaca-se que quanto mais o evento for esperado e mais distante estiver cronologicamente de sua ocorrência, a intensidade dos episódios ansiogênicos serão bem mais fortes. Em certo grau, a ansiedade positiva é necessária para a nossa sobrevivência, já que ela nos conduz ao encontro de ocasiões agradáveis, permitindo que a vida se torne mais significativa e prazerosa de ser vivida. Se torna um problema quando essa espera atrapalha o andamento de todas as outras funções a serem desempenhadas pela pessoa.

 

Ansiedade negativa

A “ansiedade negativa” está ligada a déficits de comportamentos, ou seja, a cada situação que uma pessoa se envolve cotidianamente demanda dela comportamentos específicos para a continuação ou concretização do evento em si. O problema surge na ausência de um ou mais comportamentos que são indispensáveis para que essa interação ocorra satisfatoriamente. Imediatamente, a pessoa sentirá os efeitos colaterais de suas dificuldades no corpo (sintomas físicos: tontura, falta de ar [asfixiamento], tremedeiras, formigamentos, pressão alta, dor de cabeça, perda ou aumento de apetite, perda ou aumento de peso, insônia), nas relações amorosas, familiares, profissionais, escolares e de amizade. Além disso, também poderá ser observado que a pessoa emitirá ações para se afastar (comportamentos de fuga-esquiva) da situação da qual falta-lhe repertório. Em alguns casos, o evento pode ter um alto valor aversivo que leva a uma supressão comportamental, por exemplo: mesmo sendo agredida fisicamente e sofrendo vários ferimentos, a pessoa trava e não consegue emitir uma ação para se proteger – sair correndo). Quanto maior for a complexidade do evento (aversivo) e dos déficits comportamentais, maior será a intensidade dos sintomas ansiogênicos.

 

Dificuldade para negociar

Tomemos um outro exemplo: uma pessoa ao chegar ao balcão de check-in do aeroporto percebe que esqueceu os seus documentos com foto para realizar o procedimento de check-in. Se essa pessoa possui déficits importantes de interações sociais, provavelmente ela terá uma maior dificuldade para negociar as possibilidades com a agente de embarque e, deste modo, sofrerá intensos episódios ansiosos em decorrência de sua inabilidade de interagir na busca de uma melhor solução para o problema. Em contrapartida, caso esse problema fosse enfrentado por uma pessoa que possui habilidades de comunicação e habilidades para a resoluções de problemas, a ansiedade poderia surgir, só que em menor grau, o que contribuiria para a emissão de ações que terminaria o problema, tais como: solicitar quanto tempo ainda tem para que ela se dirija ao portão de embarque (ela poderá avaliar se há tempo suficiente para buscar o documento ou ligar para que alguém traga esses documentos), se há disponível um outro horário de voo no mesmo dia, ou qual o próximo horário para o seu destino (remarcar o bilhete), ou por fim, aceitar que perdeu o voo e que sofrerá todos as consequências decorrentes de seu esquecimento – perder o compromisso, perder um dia de lazer de suas férias, perder o próximo voo que o levaria para o destino final, pagar multa para remarcar o bilhete, ter gastos com despesas de hotel, caso tenha que viajar no dia seguinte e não esteja em sua cidade, etc.

 

Técnica de respiração

Os sintomas físicos mencionados acima levam a pessoa a perder a sua racionalidade (relativo a razão) e, sobretudo, prejudicar as ações que a dirigiriam ao encontro de uma solução do problema. Por isso, em casos extremos, orienta-se que a pessoa faça uso da técnica de respiração, já que estudos científicos apontam ser essa uma das áreas mais prejudicadas. De acordo com pesquisadores, a ansiedade provoca importantes mudanças fisiológicas alterando o funcionamento saudável do organismo, uma delas é a ativação de áreas do cérebro que estimulam a hiperventilação, isto é, inalamos o ar com mais rapidez e de forma mais rasa, e o esforço consciente para mudar isso ajuda a acalmar, pois o organismo volta a seu equilíbrio. Siga a seguinte instrução: busque esvaziar o diafragma (“solte todo o ar preso dentro de você pela boca”), depois comece a inspirar lentamente (“puxar o ar pelo nariz”). Tome consciência da maneira que você está respirando. Repita o exercício algumas vezes. “SEMPRE LENTAMENTE”.

 

Compreendidas em sua dor

Culturalmente se aprende, já nos primeiros anos de vida, a não demonstrar sentimentos de fragilidade. É corriqueiro, por exemplo, quando uma criança sofre algum tipo de acidente (tombos, escoriações etc.) ouvir expressões de adultos como “Não foi nada”, “Engole o choro”, “Se continuar chorando, você vai apanhar” “Que mandou não prestar atenção”. Todas essas frases ensinam a criança a não demonstrar o que sente, e mais, a não ser compreendida em sua dor. Essas expressões podem e devem ser trocadas por: “Vamos ver o que aconteceu?” “Está doendo né!?” “Está saindo sangue”. “Vamos dar um jeito nisso agora”. “Vamos lavar com água”. A mamãe vai passar um ‘remedinho’ para logo curar o dodói”. Não há como esconder da criança a dor, o susto e nem o próprio sangue que é jorrado pela lesão. Ela precisa ser compreendida e ensinada que o problema pode ser resolvido, sem ser obrigada a interromper o ciclo dos comportamentos decorrentes dessa experiência vivida (sentir dor, chorar, ficar assustada). Por isso, as pessoas ansiosas precisam ser cuidadas e compreendidas em sua dor. Não usem expressões do tipo “Isso é frescura”, “Quer chamar atenção” “Que chilique é esse?”  Você desconhece as reais causas que a levaram a sua condição atual. Adote a postura de escuta-la sem emitir opiniões a respeito.

Os estados ansiosos não podem adquirir status de um evento crônico, mas, como o de um processo agravado por déficits comportamentais. Os profissionais psicólogos trabalham na direção de levar o cliente a desenvolver autoconhecimento de suas dificuldades e, especialmente, em desenvolver estratégias interventivas com a exclusiva função de ajudá-lo a superar o problema desencadeador das crises ansiosas. A superação pode ser compreendida como o desenvolvimento de novos comportamentos no repertório global do sujeito, tendo como propósito a melhoria de suas relações com o mundo que o cerca. Ao aperfeiçoar a relação com esse mundo de interação, as crises deixarão de existir dando lugar para sentimentos de segurança, autoconfiança e autoestima. Quando em alguns casos se observa a gravidade do problema a ser superado e do grau de ansiedade experimentado, recomenda-se o uso de medicamentos da classe dos antidepressivos (podendo incluir medicamentos da classe dos ansiolíticos) incorporados à psicoterapia. Só lembrando que a prescrição medicamentosa é de competência do profissional médico (recomendável buscar por profissionais psiquiatras).

 

Anderson Aguiar Gonçales é psicólogo formado pela Unipar, Campus Umuarama. Cursa especialização em Terapia por Contingências de Reforçamento – Psicologia Clínica (ITCR-Campinas/SP). Atua como psicólogo clínico no Cemed/Umuarama.

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