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Jornal Caderno Jurídico

Política

Educação no Brasil “soa como caos”: Beto Richa fez sua parte!

30/3/2019 às 19h54 - Luiz Flávio Gomes
Divulgação Educação no Brasil “soa como caos”: Beto Richa fez sua parte! A foto que promoveu Richa ao estágio de escárnio foi fornecida pelo delator Maurício Fanini (ver Josias de Souza, UOL 9/3/19)
Divulgação Luiz Flávio Gomes “Escola com estudo sério é a solução. Qual “mão invisível” está impedindo que isso aconteça no Brasil?”, critica Luiz Flávio Gomes

Esta foto, um escárnio como aquele do Sérgio Cabral em Paris e Mônaco (escândalo dos guardanapos), que bem revela a bandidagem das elites do poder, registrou o momento em que Beto Richa, em 2014, na piscina do hotel Delano em Miami, confraternizava sua vitória eleitoral com a nata da rapinagem empresarial acusada de desviar dinheiro das escolas para gastos de campanha, enriquecimento pessoal e desfrute brega da vida, que afinal é muito curta.

O governo que não começa cumprindo ao pé da letra a Constituição com escola obrigatória e de qualidade para todos, até os 18 anos, em período integral (eu acrescentaria), não é governo, muito menos exemplo de patriotismo; é enganação (qualquer que seja sua linha ideológica: esquerda, centro, direita ou extrema-direita). E se rouba o dinheiro das escolas é uma enganação bandida.

Educação não é só uma questão de progresso individual, senão também o eixo basilar do crescimento econômico (e da prosperidade da nação). Educação de péssima qualidade e baixo crescimento econômico são irmãos siameses. Todo mundo sabe disso, mas continuamos na mediocridade educacional.

Vendo nossos números na educação, não há dúvida que ela “soa como caos”, que é um palíndromo. Palíndromos são palavras ou frases que podem ser lidas de frente para trás ou de trás para frente. É a mesma sequência de letras em qualquer sentido que se faça a leitura. O citado “soa como caos” é um exemplo. Faça o teste. Leia de trás para frente. Reviver, ódio doido, livre do poder vil, mega bobagem, a mala nada na lama, subi no ônibus etc. São incontáveis os palíndromos.

Olhando para todos os que governam ou governaram o Brasil, a educação é um palíndromo em outro sentido: ela é indecente, desigual e abjeta, seja quando focada da esquerda para a direita, seja quando encarada da direita para a esquerda. Nem os governos de esquerda nem os de direita entenderam a relevância da educação, que é obrigação do Estado e da família.

Em matéria de educação, governo, povo e partido no Brasil é praticamente tudo sem escola de qualidade; quando há escola, não se cultiva o estudo sério. Desde o ensino dos jesuítas é assim.

A questão não é cantar o Hino Nacional (que tem apoio de 62,4%, conforme o Instituto Paraná Pesquisas), como papagaios, é entendê-lo (palavra por palavra). Norma da era petista já exigia o canto do hino uma vez por semana. Filmar crianças nas escolas é falta de estudo. Estudo da Constituição e do ECA, que proíbem isso.

Exigir slogan de campanha eleitoral nas escolas é criar a Escola com Partido. Também a Constituição proíbe (artigo 37). Num país onde todos descumprem a Constituição, o milagre é a existência de gente que acredita no futuro da nação (diria Renato Russo com o Legião Urbana).

O governo que não começa cumprindo a CF com escola obrigatória e de qualidade, até os 18 anos, em período integral, não é governo.

Nosso grave problema, como se vê, ou é a falta de escola ou é a falta de estudo nas escolas. No dia em que lutarmos todos pela escola com estudo, todos compreenderemos a falta de sentido da Escola sem Partido. Porque somos todos contra a doutrinação (incluindo a doutrinação e a lavagem cerebral anunciada pelo próprio MEC); o que queremos é estudo de qualidade universalizado, pelo menos o ensino básico (até os 18 anos).

Os gastos com a educação no Brasil ($ 130 bilhões de reais por ano, quase 6% do PIB; estamos no grupo dos 20% que mais gastam em educação) são maiores que a média dos países ricos? São. Há muita corrupção também na educação? Sim. Tudo isso tem que ser devidamente apurado? Não há dúvida. Quem seria contra, senão os próprios bandidos.

Mas o fundamental é como os gastos são feitos, qual tem sido a prioridade do ensino e o quanto de analfabetismo (formal ou funcional) nossas escolas produzem. É isso que temos que enfrentar.

Pais que não foram para a escola ou que não estudaram quando passaram por ela não compreendem, justamente por falta de estudo, que o estudo sério, que gera aprendizagem válida para toda vida, garantindo emprego e bons salários, “é um trabalho muito cansativo, com um tirocínio particular próprio, não só intelectual, mas também muscular-nervoso: é um processo de adaptação, é um hábito adquirido com esforço, aborrecimento e até mesmo sofrimento” (C. Calligaris, Folha28/2/19).

Quem diz que os presos deveriam trabalhar (logo se pensa em trabalhos viáveis dentro da prisão) deveriam também entender que o estudo é um trabalho muito duro, quando levado a sério. O afrouxamento do estudo, suas facilidades, aprovações sem provas, ou seja, sem méritos, escolas sem o ensino da ética, da disciplina e da moral, são resultado de políticas equivocadas, que confundem recreio com estudo.

Escola com estudo sério, persistente, é isso que faz com que o ser humano não venda para o mercado de trabalho somente sua força muscular, corporal, dos braços e das pernas. É isso que o faz mais que um corpo, um espírito. A geração que não estuda pra valer não consegue transcender o destino dos seus pais que não foram para a escola ou que não estudaram com afinco.

Não se aprende matemática, ciências, português, música, dança, futebol, línguas ou informática sem “responsabilidade no estudo”, na aprendizagem. O problema é que nossas escolas, em regra, não sendo de período integral, não vêm sendo programadas para estudar, tal como se vê nas experiências de vários países orientais (Coreia do Sul, Japão e tantas outras) e até mesmo no Brasil (Sobral, Espírito Santo etc.).

Aprendemos rudimentarmente nossos direitos e focamos muito pouco nos nossos deveres. A começar pelo dever de estudar com intensidade. Escola com estudo sério é a solução. Qual “mão invisível” está impedindo que isso aconteça no Brasil?

 

Luiz Flávio Gomes. Mestre e Doutor em Direito Penal. Fundou a Rede de Ensino LFG. Delegado de Polícia aos 21 anos, Promotor de Justiça aos 22 e Juiz de Direito aos 25, exerceu também a advocacia. Jurista e professor em vários cursos de pós-graduação. Publicou mais de 60 livros, sendo o mais recente “O Jogo Sujo da Corrupção”. Eleito deputado federal por São Paulo com 86.433 votos.

Artigo publicado no jornal impresso de março de 2019.

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