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Organização criminosa usava submarino para levar drogas à África e EUA

Foram apreendidos 47 aviões, bloqueadas contas bancárias e sequestradas 13 fazendas com mais de 10 mil cabeças de gado

21/2/2019 às 22h24 | Atualizado em 22/2/2019 às 0h11
Divulgação/PF Organização criminosa usava submarino para levar drogas à África e EUA Aviões de propriedade de João Soares eram usados para levar droga aos Estados Unidos e Europa
Reprodução/TV Globo Organização criminosa usava submarino para levar drogas à África e EUA Fazendeiro João Soares Rocha é apontado como o chefe da milionária organização criminosa

Uma organização criminosa acusada de transportar drogas da Bolívia, Colômbia e Venezuela para o Brasil, Estados Unidos e Europa chegou a usar um submarino (capacidade de até 8 toneladas) para cruzar o Atlântico com destino à costa do continente africano com até 8 toneladas de entorpecentes a cada viagem. A embarcação foi apreendida em meados de 2018, no Suriname.

“O submarino foi apreendido durante as investigações iniciadas há dois anos. Ele foi localizado próximo a uma pista de pouso clandestina usada pela organização e onde foram apreendidos 400 quilos de entorpecentes”, informa o delegado federal Marcelo Correia Botelho, responsável pela Operação Flak (alusão a uma expressão utilizada pelos países aliados durante a Segunda Guerra Mundial para se referirem à artilharia antiaérea alemã), deflagrada nesta quinta-feira, 21. Os mandados foram expedidos pelo juiz federal Pedro Felipe de Oliveira Santos, da 4ª Vara de Palmas.

Segundo o delegado, a droga apreendida no avião localizado em uma pista clandestina seria transferida para o submarino, atracado a 50 quilômetros de distância. De lá, os criminosos seguiriam para a África, de onde o entorpecente seria distribuído para a Europa.

Mais de 400 policiais federais atuam na megaoperação, que conta com o apoio da Força Aérea Brasileira (FAB) e do Grupamento de Rádio Patrulha Aérea da Polícia Militar de Goiás (GRAER/PMGO).

“Uma particularidade que nos impressionou é a capilaridade da organização criminosa, que tem contatos em diversos países”, comenta Botelho, esclarecendo que, além dos 54 mandados de prisão e 81 mandados de busca e apreensão que estão sendo cumpridos no Ceará, Distrito Federal, Goiás, Pará, Paraná, Roraima, São Paulo e Tocantins, as autoridades brasileiras também acionaram a Interpol, pedindo a colaboração para deter seis suspeitos de integrar o esquema que podem estar no exterior.

 

Prisões

Até à tarde desta quinta-feira ao menos 26 pessoas já tinham sido presas, entre elas, pilotos de jatos executivos. A 4ª Vara Federal de Palmas (TO) autorizou a apreensão de 47 aeronaves, além do sequestro de bens e do bloqueio das contas bancárias de mais de 100 pessoas físicas e jurídicas suspeitas de integrar a organização criminosa.

“Mais que as prisões e as buscas para apreender provas que auxiliem as investigações, a operação de hoje atingiu o poder financeiro da organização”, informa Botelho.

A quadrilha transportou mais de 9 toneladas de cocaína entre 2017 e 2018, em 23 voos que carregavam 400 kg da droga, em média por voo.

“Nosso foco foi a desarticulação, foi a descapitalização da organização. Justamente para evitarmos que o crime continue a ser praticado mesmo após a prisão dos principais líderes e membros da organização”, afirma.

Apesar de chegar a utilizar um submarino, a especialidade do grupo, segundo a Polícia Federal, era o transporte aéreo de grandes quantidades de drogas.

De acordo com o delegado, trata-se de uma “organização bem estruturada, que tinha nítida divisão de tarefas”. Ao longo das investigações, os agentes federais identificaram quatro núcleos: o logístico, responsável por gerenciar a parte operacional, como a escolha de aeronaves, a contratação de pilotos e a construção de pistas clandestinas.

 

Voos irregulares

Um núcleo aeronáutico era encarregado de identificar rotas que permitissem aos pilotos fugirem do controle aéreo e de elaborar planos de voos irregulares. Outro núcleo era o varejista, responsável por contatar os produtores de drogas e os destinatários finais, em outros países.

Por fim, havia o núcleo mecânico, formado pelos que faziam a manutenção das aeronaves. Estes profissionais chegavam a adaptar um sistema que permitia que os aviões usados no esquema fossem abastecidos em pleno voo, de forma a aumentar a autonomia de voo das aeronaves, para que não precisassem pousar.

Conforme explica o delegado federal, isso colocava em risco a segurança de todo o transporte aéreo, já que, além de viajar com planos de voo irregulares, os aviões da organização passavam despercebidos pelos radares.

O próprio piloto assumia riscos ao abastecer a aeronave em pleno voo e há indícios de que aeronaves usadas pela organização caíram, vitimando os tripulantes.

Justiça Federal sequestrou dos criminosos 47 aeronaves e 13 fazendas com mais de 10 mil cabeças de gado.

“Apesar de lucrativo, o crime trazia grandes riscos para os pilotos. Há registros de quedas de aeronaves, com a consequente morte ou desaparecimento de pilotos”, relata Botelho, acrescentando que a organização também chegou a destruir aviões apenas para “apagar” as evidências de tráfico internacional de drogas, “incluindo aeronaves com valor de mercado de R$ 1 milhão.”

Segundo o delegado Marcelo Botelho, a organização tentava mascarar suas atividades ilícitas, contratando pilotos que, paralelamente, exerciam atividades lícitas, como voos comerciais e atividades agrícolas. E lavava o dinheiro investindo em fazendas, criação de gado, postos de combustível, garimpo e na revenda das próprias aeronaves usadas no esquema.

 

O líder da quadrilha

Entre os presos está o fazendeiro João Soares Rocha, investigado pela Polícia Federal como sendo o chefe da quadrilha. Levantamento da polícia revela que ele é pioneiro no mercado de extração de madeira no Pará, inclusive, atuando em terras indígenas do Estado.

João Soares Rocha é empresário e dono de fazendas, aviões, postos de combustíveis e até um hangar. Também movimenta negócios em Goiás e no Pará. Segundo a PF, o grupo chefiado por ele utilizava pistas de pouso em Palmas e Porto Nacional, no Tocantins, como ponto de apoio para movimentar as drogas. Os federais pegaram João na chacra onde ele morava, em Tucumã, no Pará. Agora está preso na PF de Palmas.

Ainda segundo as investigações, o esquema teria ligações com traficantes como Fernandinho Beira-Mar e também Leonardo Dias Mendonça, que estava preso em Aparecida de Goiânia, mas ganhou progressão para o regime semiaberto.

 

O poder econômico

Além da apreensão das 47 aeronaves e do bloqueio de contas bancárias, também foram pedidos pela PF e Ministério Público Federal e deferidos pela Justiça Federal o sequestro de 13 fazendas com mais de 10 mil cabeças de gado e a inclusão de seis pessoas no Sistema de Difusão Vermelha da Interpol.

Segundo a investigação, que teve início há dois anos, no período compreendido entre meados de 2017 e 2018, foram realizados no mínimo 23 voos transportando em média 400 quilos de cocaína cada, totalizando mais de nove toneladas.

Os investigados devem responder, na medida de suas participações, por tráfico transnacional de drogas, associação para o tráfico, financiamento ao tráfico, organização criminosa, lavagem de dinheiro e atentado contra a segurança do transporte aéreo.

 

Da Redação
contato@cadernojuridico.com.br

Colabora Alex Rodrigues
Agência Brasil
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Colabora Comunicação Social PF-TO
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