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Jornal Caderno Jurídico

Direito Civil e Processual Civil

NCPC: penhora antes da citação pode?

19/6/2017 às 17h37 | Atualizado em 19/6/2017 às 17h38 - Luiz Dellore
Luiz Dellore

Desde dezembro de 2014, muitos foram os temas enfrentados nesta coluna [1], sendo que o tema execução já foi antes enfrentado algumas vezes [2]. O objetivo neste momento é analisar a (im) possibilidade de penhora antes da citação.

 

A realização da penhora

No caso de execução de quantia, se não houver o pagamento do débito, haverá a penhora, que é a constrição judicial de bem do executado, capaz de garantir o pagamento do débito exequendo.

Pode o exequente, já na inicial do processo de execução, indicar os bens do executado que devem ser penhorados (NCPC, artigo 829, § 1º). Só não serão penhorados os bens indicados pelo exequente se (i) forem impenhoráveis ou (ii) se outros bens forem indicados pelo executado e aceitos pelo juiz, diante da demonstração de que a constrição será menos onerosa e não trará prejuízo ao exequente – o que será apreciado, por certo, caso a caso e após o exercício do contraditório.

Desde o Código anterior, existe a previsão de que o juiz poderá determinar que o executado indique quais são, onde estão e quanto valem os bens passíveis de penhora, sob pena de ato atentatório à dignidade da justiça, que acarreta a imposição de multa (NCPC, art. 774, V). Mas o efeito prático disso, para se conseguir obter algum bem, é pífio.

Ainda sob a perspectiva prática, o mais efetivo é a realização de penhora em dinheiro. E, por sua vez, o melhor da penhora em dinheiro é sua realização por meio eletrônico, o que popularmente se denomina penhora online.

O NCPC trouxe algumas novidades quanto à penhora. Mas isso significa a possibilidade de penhora antes da citação? A resposta é, em regra, negativa. Isso porque o artigo 829 aponta que (i) inicialmente haverá a citação e (ii) somente se não houver o pagamento pelo executado, no prazo de 3 dias, haverá a penhora.

Nesse sentido, vale conferir:

Artigo 829. O executado será citado para pagar a dívida no prazo de 3 (três) dias, contado da citação.

§ 1º Do mandado de citação constarão, também, a ordem de penhora e a avaliação a serem cumpridas pelo oficial de justiça tão logo verificado o não pagamento no prazo assinalado, de tudo lavrando-se auto, com intimação do executado. Mas haveria alguma exceção, alguma possibilidade de se realizar a penhora antes da citação?

 

A penhora online

O NCPC regula a penhora online de bens do executado (NCPC, artigo 854 e ss.), com algumas inovações no procedimento em relação ao que antes existia.

Requerida essa forma de penhora, após requerimento do exequente, o juiz, sem dar ciência ao executado, determinará às instituições financeiras que tornem indisponíveis ativos financeiros do executado (NCPC, artigo 854). O juiz deverá cancelar, em 24 horas, eventual indisponibilidade excessiva (NCPC, artigo 854, § 1º).

Efetivada a indisponibilidade, o executado será intimado e terá prazo de 5 dias para comprovar que (§ 2º e 3º):

I – as quantias tornadas indisponíveis são impenhoráveis;

II – ainda remanesce indisponibilidade excessiva de ativos financeiros.

Somente após essa manifestação é que haverá efetivamente a penhora, e então a instituição financeira deverá transferir o montante penhorado para conta à disposição do juízo (§ 5º). Assim, percebe-se que antes da efetiva PENHORA, haverá prévio BLOQUEIO de valores. E esse bloqueio poderá ocorrer antes da citação? A resposta é negativa. Isso porque, conforme artigo 829 antes exposto, para que haja a penhora, inicialmente há de se dar a oportunidade de pagar.

Portanto, haverá o seguinte:

1. citação

2. oportunidade para pagamento;

3. caso não haja pagamento, bloqueio online

4. após, penhora

 

Arresto executivo (por oficial de justiça ou online)

Se, ao tentar realizar a citação, o oficial de justiça não encontrar o executado, mas encontrar bens penhoráveis, poderá arrestar tais bens. Este é o chamado arresto executivo (NCPC, artigo 830), previsto desde o sistema anterior.

Essa constrição não configura penhora, mas sim busca evitar que os bens desapareçam, para resguardar o sucesso da execução.

Uma vez efetivado o arresto, o exequente deverá providenciar a citação por edital do executado – caso não haja seu comparecimento espontâneo ou não seja realizada a citação por hora certa, por exemplo. Após a citação, o arresto será convertido em penhora (NCPC, artigo 830, § 3º).

No sistema anterior, a jurisprudência do STJ firmou-se no sentido de que seria possível o arresto executivo online. Ou seja, se o executado não for encontrado, é possível que se realize o arresto por meio eletrônico, via constrição eletrônica. A primeira decisão constou do informativo 519/STJ (grifos nossos):

 

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. ARRESTO EXECUTIVO ELETRÔNICO NA HIPÓTESE DE NÃO LOCALIZAÇAO DO EXECUTADO.

É possível a realização de arresto on-line na hipótese em que o executado não tenha sido encontrado pelo oficial de justiça para a citação. O arresto executivo de que trata o artigo 653 do CPC consubstancia a constrição de bens em nome do executado quando este não for encontrado para a citação. Trata-se de medida que objetiva assegurar a efetivação de futura penhora na execução em curso e independe da prévia citação do devedor. Com efeito, se houver citação, não haverá o arresto, realizando-se desde logo a penhora. Portanto, o arresto executivo visa a evitar que a tentativa frustrada de localização do devedor impeça o andamento regular da execução, sendo a citação condição apenas para sua conversão em penhora, e não para a constrição. Em relação à efetivação do arresto on-line, a Lei 11.382/2006 possibilitou a realização da penhora on-line, consistente na localização e apreensão, por meio eletrônico, de valores, pertencentes ao executado, depositados ou aplicados em instituições bancárias. O STJ entendeu ser possível o arresto prévio por meio do sistema Bacen Jud no âmbito de execução fiscal. A aplicação desse entendimento às execuções de títulos extrajudiciais reguladas pelo CPC é inevitável, tendo em vista os ideais de celeridade e efetividade da prestação jurisdicional. Nesse contexto, por analogia, é possível aplicar ao arresto executivo o artigo 655-A do CPC, que permite a penhora on-line. REsp 1.370.687-MG, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 4/4/2013.

O melhor teria sido o NCPC expressamente prever o arresto executivo também online, para evitar quaisquer dúvidas. Mas, ainda que isso não tenha constado do Código, por certo que é possível, considerando a jurisprudência fixada pelo STJ. Portanto, nesse caso, será possível a constrição antes da citação – mas não será penhora.

 

Tutela de urgência

Além da possibilidade de arresto online com base no artigo 830, nada obsta que a parte exequente formule pedido de tutela de urgência cautelar (NCPC, artigo 301), de modo que ocorra a constrição antes da citação.

Desde que presentes, por certo, os requisitos para a tutela de urgência, a saber: probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo. (NCPC, artigo 300).

Assim, na inicial do processo executivo, se o exequente alegar e prova essa situação, poderá o juiz deferir a constrição antes mesmo da citação. Mas, tal qual exposto acima, isso não será penhora.

Em síntese: o NCPC não permite penhora antes da citação; porém, é possível que haja constrição de bens, de natureza acautelatória, antes do ato citatório – de forma específica no artigo 830 e de forma genérica no artigo 301.

 

Epílogo: mudança na lei da impenhorabilidade do bem de família

Por fim, antes de concluir, vale um comentário adicional a respeito de recente alteração legislativa envolvendo penhora, ainda que não se refira ao NCPC.

A impenhorabilidade do bem de família é tratada na Lei 8.009/90. As exceções à impenhorabilidade estão no artigo 3º, em seus diversos incisos (por exemplo, inciso IV que trata da penhorabilidade do imóvel no caso.

O artigo 3º, I da Lei 8009/90 foi revogado pela LC 150/15, e tinha a seguinte redação: I – em razão dos créditos de trabalhadores da própria residência e das respectivas contribuições previdenciárias.

Isso significa dizer, portanto, que atualmente o bem de família é impenhorável MESMO que o débito seja relativo a dívidas em favor de empregado doméstico que trabalhou no referido imóvel.

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