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Jornal Caderno Jurídico

Política

Não existe candidato "cândido"!

3/3/2017 às 23h21 | Atualizado em 3/3/2017 às 23h21 - Dorita Hasse
Dorita Hasse

Em tempos de discussões sobre política os desencontros políticos refletem condutas que, de longe, podem representar a origem do termo como foi idealizado. Basta buscar a etimologia das palavras relacionadas ao processo eleitoral.

A palavra “eleição”, introduzida no português arcaico, provém do latim electionem, caso acusativo (isto é, forma de objeto direto) de electio, com mutação fonética de "ct" para "it" e tradução do sufixo ‑tionem pelo correspondente vernáculo ‑ção. Em algum momento da história esse vocábulo foi impresso adaptado para o português.

O fato é que o latim electio deriva do verbo eligere, por sua vez composto do prefixo ex ("fora") e legere ("catar"), provenientes respectivamente do indo-europeu eks (ou eghs) e leg‑. O indo-europeu foi uma língua antecessora do latim, falada na região do Cáucaso por volta de 4 mil anos a.C.. Portanto, eleger alguma coisa é extraí-la de seu conjunto, para lhe dar destaque em relação ao demais.

Mais tarde fez-se uso do termo “concorrer”, que significa literalmente “correr juntos”, metaforicamente para referir uma competição, inclusive a eleitoral.

Chegamos a nossa proposta: a origem do termo “candidato”! Do latim candidatus, aquele se vestia de branco – candidus – passou a indicar aquele que poderia concorrer a uma vaga no Senado, uma vez que branca era a cor da vestimenta túnica, traje oficialmente exigido aos políticos da época, não por acaso. Hoje, oficialmente usa-se o terno.

Candidus evolui para “cândido” na Língua Portuguesa. O branco deve representar a pureza, a ausência de máculas de caráter. Essa é a grande ironia da política atual.

"Cândido", “candeia”, “candente”, etc., são termos que tem origem na raiz indo-européia Kand que tem o significado de “brilho” e que nos primórdios estava relacionado ao fogo ou ao Sol.

Por sua vez etimologicamente o termo partido é o particípio passado do verbo “partir”, com sentido de dividir, mas que por extensão de sentido, partido significa parte da sociedade representada por um grupo.

A organização da sociedade, “polis grega”, na denominada democracia criada por Aristóteles, exige a figura existencial de mais de um partido político, onde se deveria ouvir a chamada oposição ou o segundo partido, para bem governar.

A propósito, na Grécia e Roma, dava-se o nome de partido a um grupo de seguidores de uma ideia, doutrina ou pessoa, mas foi na Inglaterra, já na era moderna, que se originaram as instituições de direito privado com objetivo de congregar partidários de uma ideia política. Foi a partir da Revolução Francesa e Independência dos Estados Unidos que a percepção da natureza da comunidade política se transforma drasticamente.

O próximo ano será de eleições, portanto já está sendo preparado o “páreo” para um novo período de legislatura eleitoral. O difícil será gerenciar os desmandos partidários contra os preceitos constitucionais. A contar das últimas medidas relativas à reforma partidária, introduzindo no texto constitucional permissão para que empresas promovam financiamento de partidos políticos e candidatos, os quais deveriam ser “cândidos”, ou a questão das urnas eletrônicas agora com impressão simultânea de confirmação de voto, muitas serão as questões a serem trabalhadas.

Entre nós, fidelidade partidária, possibilidades de mudanças de partido são paradoxos que foram consagrados recentemente na Constituição, na dita reforma política. Está difícil entender o que ocorre ou poderá ainda ocorrer em Brasília. Em tempos de mensalão, petrolão e Lava Jato salvem-se quem puder!

Não se ouve mais falar em ideais democráticos e muito menos de ambiente democrático no Brasil, pois não há clima para isso. Num país onde o Congresso Nacional não se respeita, onde o Poder Judiciário é constantemente desafiado diante da ousadia daqueles que praticam os mais variados delitos em nome da conveniência e do poder, é tempo de questionar sobre a validade da conduta oportunista e demagoga dos políticos que fazem uso do populismo para se eleger e reeleger.

Congressus, mais um termo que precisa ser decifrado em sua etimologia. Do latim, congressus significa “encontro”, que tanto pode ser hostil quanto amigável, de congredi, “encontrar-se ou lutar com”, de com- “junto”, mais gradi, “caminhar”, de gradus, “passos”. O nosso está indo aos tropeços!

Divagando um pouco mais, as pessoas eleitas são políticos, que veio do Grego politikos, “cívico”, de polites, “cidadão”, de polis, “cidade”.

Para encerrar essa abordagem etimológica, uma palavra que é de todos conhecida: corrupção, de corrumpere, “destruir, estragar”, de com-, intensificativo, mais rumpere, “quebrar, partir, arrebentar”. Este substantivo representa tudo o que pode ser feito de mau por poucos para quebrar a esperança e o futuro de muitos. Não no sentido atribuido ao filósofo Sócrates!

O mundo mudou! Hoje se usa termos como “populismo” para designar um conjunto de práticas políticas que consiste em estabelecer uma relação direta entre as massas e o líder carismático; “demagogia”, como a arte de conduzir o povo, com o claro interesse de manipular ou agradar a massa popular, com promessas que provavelmente não serão realizadas, visando a conquista do poder político ou “outras vantagens” correlacionadas.

Em regra, demagogia está relacionada à negativa da deliberação racional, fazendo uso das falhas da democracia, manipulando a maioria pelo uso de aparentes argumentos de senso comum entremeados com disjunções falaciosas, prática esta que remonta a Grécia Antiga e que hoje é utilizada de forma pejorativa.

São populistas os políticos que usam e abusam de meios públicos para enganar o povo com promessas que jamais serão cumpridas, com o uso de uma retórica rasteira sempre proveitosa para o seu próprio interesse. Foi-se o tempo em que se acreditava na política populista de massas proletárias cegas e ideológicas. Os tempos são outros, ou pelo pelos espera-se que assim seja.

A dependência de um povo, a submissão desmedida a um partido político em nome de uma causa, está sendo desmistificada. A bandeira do nacionalismo que impulsionou por muito tempo os governos populistas no Brasil, enfrentando as grandes empresas multinacionais em defesa do povo, que alardeava sobre a “libertação do país” frente ao poder internacional, está sendo arriada pela prática da corrupção sistematizada.

É preciso acreditar que esse populismo capaz de ocultar a manutenção de privilégios de um grupo político que se beneficia do poder está perdendo seu lugar na história do Brasil.

As questões que se põem em discussão são:

O que nos espera nos próximos dias...?

E como acreditar em partidos políticos que defendem posturas oportunistas e mercenárias em detrimento do bem-estar-social?

Quando governantes elevam o tom com o único objetivo de salvar a própria pele e que se dane o cidadão!

Que a “candura” idealizada para os senadores nos primeiros tempos se estabeleça metaforicamente para o Poder Judiciário e que o STF determine com todas as forças, que os “profanadores da República, os subversivos da ordem institucional, os delinquentes e marginais da ética do poder... que trazem consigo a marca e o estigma da desonestidade”, conforme disse tempos atrás o ministro Celso de Mello, sejam merecidamente conduzidos aos seus devidos lugares!

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